quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Entrevista com D. Orlando S. de Oliveira, Presidente do CONIC RS

Na quarta feira de cinzas,dia 17 de fevereiro, às 14.3horas o Bispo Diocesano Dom Orlando S,. de Oliveira, na qualidade de Presidente do CONIC RS (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs -região Sul) presidirá, na Sede Regional Sul da CNBB a entrevista coletiva com a imprensa de Porto Alegre para lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010, cujo tema é "Economia e Vida". Participarão também da entrevista o bispo auxiliar da Arquidiocese Católica de Porto Alegre, Dom Remidio José Bohn , Vice Presodente do CONIC-rs e  o Pastor Ervino Schimidt da IECLB, Secretário do CONIC-rs. E representantes das pastorais sociais das igrejas membros do CONIC-rs.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Um casamento especial

Pedi permissão ao Editor do EC para contar uma história de casamento: o enlace matrimonial do próprio Rev. Josué e de sua esposa Paula Suzuki. Eu o chamo de especial, porque o ato se revestiu de características bem distintas. Como o Rev. Josué é ministro encarregado em Caxias do Sul/RS, da Paróquia da Virgem Maria, e sua esposa é de origem japonesa, elementos culturais se entremesclaram, para a realização do casamento: serra gaúcha, tradição anglicana e traços culturais japoneses. A cerimônia poderia ser considerada ecumênica porque um dos celebrantes da mesma, cunhado de Paula, é pastor presbiteriano; o outro celebrante foi nosso bispo diocesano. O rito utilizado foi o da IEAB, mas houve momentos especiais que repontavam à tradição japonesa. É dado interessante comentar as roupas dos noivos e a decoração: Josué chegou vestido de terno preto e chapéu côco; Paula entrou com seu pai, trajando os dois, vestes especiais japonesas de casamento; um, já idoso, de barbas e bigodes brancos, uma simpatia, parecia um samurai: ela, uma radiante jovem nos seus trajes tradicionais. Como os noivos já tinham tido uma união anterior, cada um, 3 meninos, os filhos, entraram, trazendo flores em estilo japonês. A cerimônia foi ao ar livre, à noitinha, com o agradável ar da serra, na parte de fora de uma cantina italiana, um local belíssimo, onde se sentia o odor das uvas, prontas para a colheita. O altar, montado pelos noivos, tinha elementos da tradição anglicana e objetos da cultura japonesa. Os celebrantes conduziram os noivos no rito da IEAB, e um momento de grande emoção foi o instante dos votos mútuos: Paula cantou, em forma de oração, seus votos de compromisso para com Josué, e o noivo fez seus votos, como se fosse uma poesia. Os convidados, poucos, a maioria familiares, acompanharam com extrema simpatia toda a cerimônia. As cores das flores eram muito amarelo, com toque de branco. As luzes, em forma de lanterna, aumentaram o ar intimista da celebração. Foi como se todas as pessoas casadas, ali, estivessem casando novamente. A confraternização que se seguiu, no interior da cantina, deu um acabamento especial a todo o evento. Nossos votos de felicidades, de meu esposo e meus, ao jovem casal, que teve a coragem de perseguir a felicidade humana, até encontrá-la, e teve a gentileza de compartilhá-la com as outras pessoas. A celebração de casamento de Josué e Paula aconteceu no dia 13 de fevereiro deste ano. Este relato, bastante breve e incompleto, nos leva a refletir sobre o espaço que nossa Igreja dá às pessoas bem intencionadas. Podemos descobrir, neste fato, a experiência da inclusividade, de uma nova oportunidade para todos que buscam a felicidade aos olhos de Deus, da inculturação (ao agregar elementos de outra cultura numa cerimônia da igreja brasileira), da ambientação num espaço fora do templo, mostrando que quem faz a Igreja somos nós, não somente as paredes de um templo, embora elas sejam muito importantes, também. Todos os dias, o Senhor nos dá a oportunidade de construirmos a História da Igreja com a nossa contribuição particular. Não percamos essa oportunidade!
por Profª. Vera Lucia de Oliveira
Fotografia: André Susin


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Dom Prado: o deão e o sonho

D. Luiz Osório Pires Prado, falecido recentemente, era homem do pampa gaúcho. Como todo homem pampeano, gostava de sonhar, e sonhar alto e longe. Desde jovem, recém graduado do Seminário em São Paulo, ele sonhava. Quando voltava, ainda estudante, pendurado num trem, que fazia a ligação da capital com as cidades vizinhas da metrópole, ao fim do seu estágio semanal, ele sonhava. Com o que? Sonhava com a Igreja – Testemunho do Reino, uma futura paróquia, com um casamento e a construção de uma família, e com o aprofundamento de seus estudos. Quanto aos estudos, sonhava com um grande filósofo francês do século XX, Teillard de Chardin, homem difícil de entender, mas de profunda sabedoria e espiritualidade. E estes sonhos se concretizaram: veio a formatura, a posterior ordenação, uma paróquia pequena, serrana, no interior do Rio Grande do Sul, onde ele mostrou, além do seu preparo teológico e pastoral e do cuidado extremo com os paroquianos, sua alma de pampeano. Mas este pampeano era,também, cosmopolita. Amava a língua francesa como ninguém. E o interesse por Chardin levou-o a obter uma bolsa de estudos na França, onde se especializou neste pensador. Ficou tempo lá suficiente para arranjar grandes amigos, e, cada vez mais, tornar-se um grande teólogo. Da França, ele retornou para o Rio Grande. Primeiro, novamente a cidade serrana, bem gaúcha, S. Francisco de Paula, onde o inverno é tão brabo que até cusco rengueia; depois, uma outra, bem diferente, com muito alemão dando palpite, pois a origem dos povoadores da cidade era essa. Pois não é que o pampeano se deu bem, lá? E o sonho pelo estudo continuou. Ele se tornou uma coisa complicada, que se chama geógrafo, com muita vocação para a ecologia. E ele punha em prática muito do que aprendia, em terras que tinha herdado de seus pais, em companhia de seu irmão. E o sonho continuava a se realizar, nas turmas universitárias para quem ele dava aula, e, também, num Seminário Teológico Regional que existia em Porto Alegre. O cara era bom, mesmo. Mas o amor pela Igreja era enorme, Teologia e devoção anglicana, nem se fala. E o homem lia, estudava, auxiliava os seminaristas e seus paroquianos, etc., até que foi chamado para construir uma Diocese. E ele se bandeou para a zona sul do estado, bem perto do Uruguai, para realizar a tarefa de ser um bispo anglicano em Pelotas e regiões próximas. No tempo em que estava em Pelotas, mostrou suas grandes qualidades de administrador, sonhador e realizador. Viajou pelo mundo inteiro, sempre buscando recursos para fazer crescer a diocese que ele amava. Tempos depois, mais de dez anos, a vida o chamou para perto, novamente, da capital. E o pampeano gaúcho arrumou suas coisas, bem como a família, e foi residir em São Leopoldo/RS. Lembram da cidade dos alemães? Pois é, voltou para aquela, mesmo. Mas, como todo gaúcho irriquieto montou seu acampamento, finalmente, em Novo Hamburgo/RS, outra cidade vizinha. Acho que ele gostava das pessoas daquelas terras, pois antes, na primeira vez que morou em São Leopoldo, pastoreou a sua sede, Novo Hamburgo, Feitoria e Sapucaia do Sul. Foi então que, na década de 2000, foi chamado para trabalhar no Seminário Teológico de Porto Alegre (SETEK), inicialmente como Capelão e professor de Teologias (várias - o pampeano era versátil e profundo teólogo), e depois, como Deão ou Reitor. O homem era ativo que só ele. Vivia pensando grande, para aumentar o Seminário, construir novas dependências. Montou a capela a seu jeito, pois sua grande preocupação, maior do que outras (embora elas também fossem grandes, e o fizessem sonhar bastante) era com a vida devocional dos estudantes. Às vezes, como a maioria dos pampeanos, era durão, mas tinha um coração de manteiga derretida. E como cuidava dos animais, também... Embora se dizendo de tradição beneditina, acho mesmo que ele era um franciscano enrustido. Traduziu muitas obras teológicas do inglês para o português, fazia um boletim semanal devocional, mantinha, também, uma rede de amigos a quem enviava mensagens de ordem espiritual e teológica, por internet. Produziu livros, divulgou o canto e a maneira de ser anglicanas, promoveu vários Cursos de Verão no Seminário, para os interessados em anglicanismo. Enfim, ele respirava anglicanismo. A sua opção de fé. Pois não é que esse homem, tão importante para Igreja, com amigo em todo o canto desse mundo, sonhou e sonhou tanto, que um dia Deus o convidou para sonhar junto d´Ele? Sabem, pampeanos também cansam. E ele estava muito cansado e triste, porque muitos dos seus sonhos não aconteceram. Acho que ele teria ainda muitos sonhos para sonhar, mas, mesmo assim, não foi pego desprevenido. Organizou toda a sua vida familiar antes que seu corpo, cansado, fosse entregue às cinzas. Lutou pelo SETEK até o fim. É interessante como muitos dos bispos de nossa Igreja morrem em serviço. Poucos tiveram a oportunidade de se aposentar. Ele também não teve, pois, aos 66 anos, dormiu no Senhor. Essa é parte da história pessoal de D. Prado, o pampeano sonhador. Pois quem não sonha, não realiza, não faz o trabalho de Deus. Nós, do SETEK, sentimos muito a falta dos seus sonhos. Que o Senhor o acolha nos seus braços amorosos! Amém.

por Vera Lucia Simões de Oliveira